Você sabia que o porco tem os mesmos cortes do boi? Conhecê-los é uma forma de garantir o aproveitamento total do animal e ser mais versátil na cozinha
Vamos começar pela cabeça. Com a bochecha, você consegue preparar um legítimo espaguete à carbonara italiano. Passando pela paleta, experimente montar um hambúrguer. A barriga pode se transformar em torresmo ou bacon. Aproveite a costela, com osso e tudo, para fazer um belo churrasco. Por que não fazer uma salsicha com o pernil e um molho roti com o pé?
O porco, assim como o boi, divide-se em uma variedade enorme de cortes. Conhecê-los é uma forma de garantir o aproveitamento total do animal e conseguir mais versatilidade na cozinha.
Recheio de guioza
“Para nós, consumidores, o filé-mignon não era trabalhado como corte especial. Ficava encostado no açougue, era vendido como filezinho e as pessoas nem sabiam o nome”, comenta. Em uma volta ao mundo, o chef usa o filé-mignon para rechear uma empanada argentina, servida com molho chimichurri, e também prepara o bife à milanesa schnitzel, muito popular entre alemães e austríacos.
Pela proximidade com a barriga, a fraldinha suína tem bastante gordura, o que faz com que seja extremamente macia. De assamento rápido, pode ir direto para a brasa ao lado de cogumelos e legumes grelhados. Já o tomahawk tem parte da costela e do copa lombo. Por ser grande e imponente, pela presença do osso, destaca-se sozinho no prato e nem precisa de muitos acompanhamentos.
Por outro lado, cortes tradicionais do porco podem ganhar nova roupagem. O pernil não precisa necessariamente virar bife ou ser assado inteiro no Natal. Fagner faz uma salsicha. Processa com os temperos, como cominho e coentro, e usa suco de beterraba para dar cor. Sua referência é Jefferson Rueda, da Casa do Porco, em São Paulo, que está entre os melhores restaurantes do mundo.
Com essa base, ele chega a três versões de salsicha: tradicional, estilo alemã e picante (com mais páprica). “Você não consegue identificar nenhum ingrediente na salsicha da indústria, ela é ultraprocessada. Nessa dá para ver que existe carne e o sabor não é artificial. No máximo, coloco para defumar”. Seu cachorro-quente é servido com maionese de limão e catchup defumado.
O lombo também pode ser consumido em forma de tartar. Sim, não há mais problema em comer carne de porco crua. “Não existe mais criar porco em chiqueiro. O controle sanitário é rígido, tudo é muito limpo, as vacinas são preventivas, trocamos os antibióticos por probióticos. Hoje em dia usamos muita tecnologia para o bem”, aponta o presidente da Asemg, João Carlos Bretas Leite.
No topo da lista
Minas Gerais não é referência apenas em consumo, mas também na produção da carne de porco. De acordo com dados da Asemg, somos o quarto maior produtor de suínos do Brasil (atrás dos três estados do Sul), com destaque para as regiões de Ponte Nova, Pará de Minas e Patos de Minas. No ano passado, foram comercializados 550 milhões de quilos de carne.
“Ele e o meu tio vieram do ciclo do porco tipo banha. Na década de 1960, quando surgiu o óleo de soja e a banha de porco começou a ser abandonada, eles tiveram que mudar o perfil da produção para porco tipo carne. Aí a cidade cresceu com esse negócio”, relembra João Carlos Bretas Leite, que trabalha com os associados para aumentar o consumo da carne suína.
A Matuto se dedica a uma pequena produção de porco caipira na divisa de Contagem e Ribeirão das Neves. Segundo o chef consultor Marco Túllio Abras, os animais são criados em um sistema humanizado.
“Existe um estigma em relação à criação de porcos, mas deixamos os animais soltos, comendo, eles vão engordando naturalmente, passam por banho de sol, recebem massagem e isso eleva a qualidade do que servimos.”
Marco Túllio explica que sabor e textura são completamente diferentes. Ela é mais avermelhada e tem uma camada de gordura mais espessa e uniforme.
O corte mais vendido é o prime rib, que une o sabor do lombo com a beleza do osso da costela. Por outro lado, o menos conhecido é o tomahawk, formado pela parte dianteira da costela e o copa lombo. “Ele tem o nome do machado de guerra dos índios americanos por causa do seu formato”, conta.
Esse corte chega a pesar 1kg e geralmente é servido em um prato para duas pessoas. No Chico Dedê, de André Paganini, você pode comê-lo com ravióli de queijo minas e roti de porco.
Desde que começou a vender os cortes especiais, a Matuto tem se surpreendido com a aceitação no mercado. O crescimento mensal está na média de 30%, o que acelerou o projeto de expansão. Hoje são abatidos no máximo 60 animais por mês e eles querem chegar a 250, sem perder a qualidade.
Paleta prensada com mousseline de baroa e vegetais na manteiga (Fagner Rodrigues)
Ingredientes
2kg de paleta de porco (pernil dianteiro); 30g de sal; 200ml de suco de laranja; 5g de pimenta-do-reino; 2g de cominho; 2g de gengibre ralado; 30g de cebola ralada;
5g de alho ralado; 100ml de água; 5g de tomilho; 200g de batata-baroa; 250ml de leite; 150ml de creme de leite; 40g de parmesão
Modo de fazer
Misture todos os ingredientes secos (sal, pimenta, cominho, gengibre, cebola e tomilho) e massageie a paleta por cinco minutos. Coloque a carne em um saco plástico e acrescente a água e o suco de laranja. Deixe descansar por 12 horas. Coloque a paleta em uma assadeira e coe a marinada. Acrescente o líquido na assadeira e cubra com papel-alumínio. Asse por quatro horas a 150 graus. Retire do tabuleiro, desfie toda a carne e espere esfriar. Abra um papel filme e coloque uma quantidade de carne que, ao enrolar, chegue a oito centímetros de diâmetro. Leve à geladeira por uma hora. Corte na espessura de dois dedos e retire o plástico. Coloque em um tabuleiro untado e leve ao forno preaquecido a 180 graus por 10 minutos. Cozinhe a batata-baroa e passe no espremedor. Leve ao fogo e acrescente o leite e o creme de leite, deixando ferver. Acrescente o parmesão e tempere a gosto. Sirva a paleta prensada com a mousseline de baroa e legumes na manteiga.
Matéria: Celina Aquino – Estado de Minas