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CARNE SUÍNA E DE FRANGO COMEÇAM A SUBIR

Depois de enfrentarem um primeiro semestre pressionados pelo excesso de oferta e pela frustrante demanda do mercado externo, os preços da carne de frango e suína começaram a reagir no atacado em resposta à disparada das cotações do milho e do farelo de soja, principais insumos para a produção de ração. A tendência, contudo, deve ser limitada pelo comportamento da carne bovina, que deve se manter em patamares baixos graças a maior disponibilidade de gado para abate.
Em julho, o quilo da carcaça de frango no atacado em São Paulo subiu 1,4%, para R$ 2,84, segundo a Scot Consultoria. O salto foi ainda maior para a carne suína que, estimulada pelas medidas de apoio anunciadas pelo governo federal, avançou 7,4%, para R$ 3,59 o quilo.
A recuperação em curso deve se sustentar ao menos nas próximas semanas, já que os produtores de frango e de suínos, notadamente os da região Sul, ainda trabalham com margens negativas. “O que estamos vendo é que o alto custo do milho e do farelo de soja impõe uma necessidade de puxar os preços. É um início de recuperação “, afirma Heloísa Xavier, analista da Jox Assessoria Agropecuária.
Conforme dados da Agroconsult, para um criador de suínos recuperar a relação de troca animal/ração aos níveis de 2011, a cotação da suíno vivo precisa subir 74%, para R$ 2,94 o quilo. Hoje, em muitas regiões do Brasil, o valor não passa dos R$ 2. Já para os criadores de frango atingirem o mesmo patamar, seria necessário uma valorização de 43% até R$ 2,57 o quilo. Em São Paulo, o preço médio do frango vivo foi de R$ 1,85 em julho, de acordo com a Scot Consultoria. “Não há como escapar da inflação”, diz André Pessôa, da Agroconsult.
Para fazer frente à alta dos custos e escapar do prejuízo, os produtores de aves e suínos estão reduzindo o volume de produção. Entre janeiro e junho deste ano, em meio aos estoques elevados e a fraca demanda de exportações, os produtores de frango reduziram os alojamentos de pintos de corte em 1,8%, segundo César Castro Alves, da MB Agro. Com a alta dos custos de produção, provocada pela quebra das lavouras de milho e soja nos Estados Unidos, o ajuste de oferta será repetido em maior intensidade na segunda metade do ano.
“Quase todas as agroindústrias de aves já avisaram que devem reduzir em cerca de 10% de sua produção para evitar um estrago maior. Hoje, o custo de produção é de R$ 2,10 e o produto é vendido a R$ 1,90”, afirma o presidente-executivo da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. “Essas medidas vão se refletir numa menor disponibilidade de carne”, concorda Heloísa, da Jox Assessoria.
Com o ajuste de oferta, os preços devem chegar às gôndolas e influenciar os índices de inflação, que ainda não contabilizaram todos os impactos da alta da carne de frango e suína no atacado. Na passagem de junho para julho, o grupo alimentação do IPC, índice que compõe o IGP-M, da FGV-SP, avançou de 0,61% para 1,06%. Mas essa aceleração ainda não está ligada aos preços das carnes, e sim às péssimas condições climáticas para a produção de tomate e batata, que sofreram com a oferta reduzida nas últimas semanas. Os preços dessas hortaliças, contudo, já iniciaram uma trajetória de desaceleração e devem pesar menos sobre a inflação, ao contrário do movimento esperado para as carnes.
A pressão das carnes de frango e suína sobre a inflação, contudo, serão limitadas. Ainda que aumentem nas próximas semanas, as duas proteínas são historicamente influenciadas pelas oscilações de sua principal concorrente, a carne bovina, que por sua vez experimenta um cenário de oferta excepcionalmente favorável. Com a maior disponibilidade de animais para abate, os contratos de boi gordo na BMF&Bovespa para novembro apresentam uma curva descendente. Alves, da MB Agro, lembra que esses contratos eram negociados a R$ 104 a arroba em 22 de maio, recuaram para R$ 97 na semana passada. “O mercado trabalha com uma boa oferta para o ano. E nem os confinamentos, que dependem mais dos grãos, devem se reduzir muito”, diz Maurício Nogueira, sócio-diretor da Bigma Consultoria. A mesma situação se reflete na produção de leite, que caminha para a fase final da entressafra.
Apesar da expectativa, a inflação preocupa o governo. “Se o cenário se mantiver da forma como está hoje, com certeza teremos um impacto significativo dos preços dos alimentos na inflação”, disse uma fonte do Banco do Brasil. Segundo essa avaliação, a alta das cotações das commodities agrícolas devem puxar a inflação com alimentação no Brasil para cima neste ano e também no ano que vem.