Criadores sofrem com queda nos preços pagos pelos animais vivos no estado e no país, que estão até 25% abaixo do valor de produção. Prejuízo chega a R$0,50 por quilo vendido aos frigoríficos
Criar suínos não tem sido uma tarefa fácil. O problema está em uma conta que não fecha: o preço do quilo do animal vivo caiu 35% desde o início do ano. Com isso, a remuneração do suinocultor tem ficado entre 18% e 25% abaixo do custo de criação. O prejuízo é certo. Os problemas que mais afligem o setor são relacionados com a alta cotação das raçoes e a demora para o valor da carne cair nos açougues e supermercados. Sem ficar mais barata, o consumidor compra menos, a oferta permanece alta e o problema continua. O embargo imposto pela Rússia ao produtor nacional complicou a situação: parte da carne que seguiria para os estrangeiros acabou ficando no mercado interno. Para tentar amenizar o cenário ruim, as associações de criadores preparam um documento nacional para levarão governo. Entre os pedidos est á a inclusão dos cortes suínos na pauta de produtos amparados pela Política de Garantia de Preços Mínimos.
Com remuneração entre 18 e 25% inferior aos custos de produção, as 1.470 granjas de suínos de Minas Gerais operam hoje no vermelho. Desde o início do ano, o quilo do animal vivo pago ao produtor caiu mais de 35% ao passar de R$ 3,40 para os atuais R$ 2,20, segundo dados da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg). Se não bastasse a forte desvalorização que o produto enfrenta no mercado interno, a escalada dos preços dos insumos ajuda a compor o cenário delicado vivido pela suinocultura nacional.
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), o preço do farelo de soja – tomando como base o mercado de Campinas – subiu 59% do início do ano pra cá. Na última semana, a tonelada estava cotada em R$ 985,13. A queda de 21%no custo do milho, outro composto da ração dos animais não foi suficiente para sanar o problema. Atualmente , os produtores contabilizam custos que chegam a variar entre R$ 2,70 e R$ 2,90, de acordo com a região de Minas Gerais, representando perda de pelo menos R$ 50 por animal vivo comercializado. “Não deve haver produtor, a não ser aqueles com grande escala, que esteja empatando hoje, apenas perdendo” garante o presidente da Asemg, João Bosco Martins de Abreu.
José Arnaldo Cardoso Penna, vice-presidente da Asemg e dono da Granja Barreirinho, em Sete Lagoas, na Região Central do estado, explica que em ponto de abate o suíno chega a um peso bruto de 100 quilos. “Sendo vendido a R$ 2,20 para o frigorífico, o produtor tem que arcar com pelo menos R$ 50, o equivalente a R$ 0,50 por quilo, de prejuízo” contabiliza. A soja é sem dúvida o principal vilão com recordes consecutivos de preço. “Hoje, o farelo de soja representa entre 35% e 38% do custo total de produção, percentual que sempre ficou na casa de 20%” calcula o suinocultor do Sul de Minas e Triângulo Mineiro, Roberto da Silveira Coelho.
A superoferta do produto no país, justifica o atual momento vivido pela suinocultura. Em julho do ano passado a Rússia suspendeu temporariamente o comércio de carne suína com o Brasil, fechando as portas de um importante mercado consumidor. O Ministério da Agricultura aguarda para o próximo mês a visita de uma comitiva Russa para avaliar tecnicamente os laudos de equivalência sanitária, já encaminhados para tramitação. “A partir do momento em que a Rússia tomou essa medida, conseguimos abrir outros mercados, substituindo parcialmente, mas não totalmente esse comprador” observa Roberto Coelho.
Sem escoamento, o produto acaba sendo direcionado para os açougues e supermercados brasileiros. “Somando a isso, os altos custos de produção fizeram com que os produtores , para evitar perdas maiores , ofertassem os animais no mercado. Para completar, a demanda não tem mostrado sinais de avanço”, explica a pesquisadora da Cepea/Esalq Camila Ortelan.
Alternativas – Com uma pequena indústria, capaz de processar até 30% da produção José Arnaldo reconhece que somente assim consegue ter fôlego para manter os negócios. “Transformamos o animal abatido na indústria em cortes comerciais que vão direto para o consumidor” observa. Outra opção é queimar estoque de grãos como vem fazendo Roberto da Silveira, que atualmente tem autossuficiência de 70% da demanda de milho. “Estou usando o meu estoque, sem condições de repor”, conta. A substituição, ainda que pequena, do farelo de soja está entre as saídas para amenizar as perdas. “Estamos usando farinha de carne e levedura de cana, além de enzimas, para melhorar a eficiência da proteína da carne. São recursos aos quais já temos recorrido, mas é impossível retirar a soja da dieta” observa Roberto Coelho.
Apesar das dificuldades, João Bosco afirma que ainda não há casos de produtores que estejam abandonando a atividade. “Aqueles que dependem do processo de integração com indústria, como no caso do Paraná, estão sofrendo mais. Aqui em Minas há uma produção mais completa que chega até os suínos acabados”, observa.
A expectativa de melhoria do cenário recai sobre os próximos seis meses. “Provavelmente em duas semanas será iniciado um processo de recuperação” prevê o presidente da Asemg
Enquanto isso …Situação de emergência
Braço do Norte, Sul de Santa Catarina, decretou situação de emergência para que os produtores do município possam ter acesso a algumas políticas públicas para amenizar a crise do setor, que amarga R$ 1 bilhão em perdas nos últimos 18 meses, segundo a Associação Catarinense de Suínos (ACCS). A avaliação é com base no abate mensal de 1 milhão de cabeças com perda de R$ 41 a R$ 58 por suíno de 100 quilos. O motivo é que o preço base do quilo do porco está em R$ 1,90 na região, para um custo de produção de R$ 2,57, segundo cálculos da Embrapa. O decreto de emergência permite que os produtores acessem leilões de milho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a preço de R$ 21 a saca de 60 quilos contra R$ 26 no mercado normal.
A pressão que vem do mercado
A resistência dos preços que não caem na mesma velocidade para o consumidor tem sido um dos principais entraves ao crescimento do consumo de carne suína e do consequente lamento dos suinocultores. “Um comportamento habitual do mercado é que o preço na ponta nunca baixa na mesma velocidade. Semanalmente fazemos uma análise dos custo médio do valor de venda e nos supermercados e açougues mantém-se o preço na casa dos R$ 11”, lamenta o presidente da Asemg, João Bosco Martins de Abreu. Com isso, o consumo não aumenta, a oferta permanece alta e os preços da carne suína seguem abaixo do necessário para cobrir o custo de criação dos animais.
Segundo levantamento do site de pesquisas Mercado Mineiro, o preço do lombo suíno foi o que mais variou entre a primeira semana de janeiro e a primeira semana de junho, caindo de R$ 11,54 para R$ 9,75, retração de 15,5%. A redução, porém, não acompanha a queda do custo da carne junto ao produtor, que chega a 35% em seis meses, se reduzindo a menos da metade desse percentual. Outros cortes como costelinha, filé e pernil registraram reajustes ainda mais tímidos, que no caso da costelinha chega a meros R$ 0,25
Preços médios para o consumidor caíram menos do que a cotação da carne suína destinada a remunerar o criador. Confira
Corte 1 semana de janeiro 1 semana de junho variação (em %)
Costelinha (Kg) R$ 10,45 R$ 10,20 – 2,39
Lombinho (Kg) R$ 11,55 R$ 11,09 – 3,98
Pernil sem osso limpo (Kg) R$ 10,07 R$ 9,22 – 8,44
Lombo (Kg) R$ 11,54 R$ 9,75 – 15,51
Estoques Altos – o superintendente da Associação dos Supermercados de Minas Gerais (Amis), Adilson Rodrigues, reconhece que a queda na ponta não chega na mesma proporção ao consumidor, dado que os demais custos não foram alterados. “Quando cai 35% do porco vivo, o que chega à ponta não é este animal, mas sim a versão processada . Leva-se em conta a embalagem, transporte, mão de obra e outros custos que não se alteraram”, pondera Adilson Rodrigues, que reforça que houve sim uma retração de 15% como verificado pelo Mercado Mineiro.
O fato de muitos supermercados e açougues manterem estoque, também justifica a queda em velocidade inferior. “Pode levar até 60 dias para serem realizados novos pedidos. Por isso há também uma equalização do estoque” acrescenta Adilson Rodrigues.
Diante das justificativas dos pontos de venda, o resultado é um consumo praticamente inalterado. Segundo João Bosco , até a segunda semana de julho foram vendidas 470 mil toneladas de carne suína. “O volume é exatamente igual ao registrado no mesmo período do ano passado” observa
Moblização para pedir melhorias
Suinocultores preparam documento que prevê medidas que podem amenizar o problema. Ato público em Brasília está marcado para o dia 12.
A urgência vivida pela suinocultura fez com que a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), em parceria com as entidades estaduais, elaborasse um documento com reivindicações que melhorem as condições do produtor. Entre as principais demandas estão inclusão da carne suína na pauta de produtos amparados pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e a prorrogação da dívida do produtor a juros baixos.
O vice-presidente da Asemg, José Arnaldo Cardoso Penna, ainda cita a necessidade de uma verba de R$ 500 por matriz fêmea reprodutora – para que o animal não seja encaminhado para abate. “É uma política de retenção de matriz” explica . Dessa forma, não será necessário abrir mão das matrizes para reduzir a produção e consequentemente o prejuízo.
“haverá um recurso para manutenção, já que para substituir uma matriz, será preciso pelo menos um ano de espera até que seja produzido o primeiro animal para abate” explica José Arnaldo. Isso porque somente o período de gestação responde por 114 dias. São necessários outros 150 para que o porquinho ganhe peso e atinja os 100 quilos exigidos pelo mercado. Somado a esse prazo, ainda há o período de amadurecimento da matriz, já que, em muitos casos, ela chega pronta para a cobertura ou inseminação. Cada reprodutor contribuirá com cerca de 25 animais para abate todos os anos. Nesse período, segundo José Arnaldo, são necessários pelo menos 1 mil quilos de ração apenas para manutenção da matriz, o que mostra o alto custo da criação.
No dia 12, todas essas reivindicações serão apresentadas em audiência pública na Comissão de Agricultura do Senado Federal, que contará com a presença de representantes das associações estaduais, suinocultores, indústrias, Ministério da Agricultura, Ministério da Fazenda. O encontro será seguido de uma caminhada saindo do Congresso Nacional em direção ao Ministério da Agricultura. O ato público vai contar com a presença de mais de 450 suinocultores de pelo menos 10 estados. “Estamos convictos que o momento é de união, de ajuda mútua para reduzir estragos que a crise já vem causando e que ainda causará antes de uma melhora de mercado” afirma Marcelo Lopes, presidente da ABCS.
Na ordem do dia
Principais reivindicações dos suinocultores:
- Votação do PL 330/2011, lei das integrações, que se encontra na Comissão de Constituição e Justiça do Senado;
- Inclusão do setor nas medidas do Programa Brasil Maior, sobretudo com desoneração da folha de pagamento, o que atende sobretudo a indústria frigorífica e de insumos;
- Prorrogação dos custeios pecuários e aumento do limite de crédito aos produtores para R$ 500,00/matriz até o limite de R$ 2.000.000,00 por CPF;
- Inclusão da suinocultura no PL 2092/2007, que trata da reestruturação do passivo do setor rural brasileiro, alongamento das dívidas, que está em análise na Comissão de Finanças e Tributação.
- Aprovação da Linha Especial de Crédito – LEC, para a indústria frigorífica, até o limite de R$ 20.000.000,00 por CNPJ;
- VEP de milho para os estados do sul do Brasil e para São Paulo;
Fonte: Jornal Estado de Minas com informações Asemg